Duas Vidas, Dois Destinos é um livro de 1980, escrito originalmente por Katherine Paterson, que foi traduzido para o português por Ana Maria Machado, que conta a história de irmãs gêmeas, Sarah Louise e Caroline.
Ele é narrado pelo ponto de vista de Sarah Louis, que sente, durante toda a sua infância e adolescência, que sua irmã gêmea é mais amada pela sua família – por ter nascido menor e com certas complicações, Caroline recebe mais atenção e, quando cresce, e mais feminina, mais delicada – mais próxima do estereótipo de filha perfeita que Sarah Louise supõe que seus pais queiram.
A história, no entanto, fala sobre muito mais do que a visão de uma irmã sobre a outra: ela conta sobre o crescimento pessoal de alguém que se vê como inadequada, que tem problemas em se aceitar e que, por isso, não percebe nem mesmo que aqueles a sua volta a aceitam como ela é. Sarah Louise – ou Wheeze, como é apelidada no livro – é uma menina que cresce conflituosa consigo mesma e com aqueles à sua volta. Ela relutantemente admira a irmã, e não vê como conseguiria superá-la. Ama os pais, mas se ressente deles, por aparentemente amarem mais a sua irmã do que a ela.
Quando sua irmã sai da ilha onde cresceram para ir estudar música, Sarah Louise percebe que ela não quer a vida da mãe – monótona e conservadora – para si. E é partir daí que Wheeze passa a se perceber como mais do que simplesmente a irmã de alguém talentosa, bonita e feminina: quando sai da sombra da irmã “perfeita”, da mãe que jamais questiona nada, da avó que beira a crueldade, é que Sarah Louise se descobre como pessoa, indivíduo, e como mulher, percebendo o que quer para si, sem tentar descobrir isso através do que os demais esperam dela – ou do que ela supõe que eles esperem.
O livro é narrado de maneira interessante e é uma leitura clara, embora não possa ser chamada de leve, já que ele faz com maestria o que tantas outras obras com esta temática falham em fazer: ele mostra a descoberta de uma garota ao longo da sua vida, percebendo-se sem parâmetros comparativos que não a si mesma. Metaforicamente, Sarah Louise não deixa de ser um pouco todas as meninas de todas as gerações modernas – aquelas que sempre tentam se igualar a parâmetros quase inalcançáveis e que não acreditam que seus pais a amem tanto quanto deveriam.
Duas Vidas, Dois Destinos é enriquecido ainda, pela tradução de Ana Maria Machado, que consegue transpor para o português toda a sutileza da obra original sem que ela perca nada da sua magia única. Uma ótima leitura para todos os gostos e idades.